sexta-feira, 17 de outubro de 2014

PALESTRA ACERCA DA MEDIAÇÃO DA LEITURA - Guia de Leitura (por Gelson Drierich Bini)


Fonte: Ariane Batista

O relato abaixo é baseado na fala de Gelson Drierich Bini em passagem por Lages-SC no 32º Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, este profissional vem de uma família humilde e da roça. Em sua casa o livro não era presente. Uma vez ele encontra uma vitrolinha que era uma maletinha e a tampa virava o autofalante, ele achou no lixo e consertou. Junto com a vitrolinha havia 5 discos (Iron Maiden, Black Sabbath, Led Zeppelin, Pink Floyd, Kraftwerk), estes eram os seus amigos e ouvia os discos muitas vezes. Com a audição dos discos ele se questiona o que as letras das músicas diziam (estavam em outro idioma), no Iron Maiden encontrou ideias dos textos de Shakeaspeare e Camões, no Pink Floyd - na música "Pigs, Dogs and Sheeps", encontrou George Orwell e o livro A Revolução dos Bichos, em Black Sabbath, encontrou os textos de Edgar Allan Poe e H. G. Wells, em Led Zeppelin, encontrou a base em textos de J. R. R. Tolkien (o Senhor dos Anéis). Ele afirma que se construiu como leitor por meio da música e do rock. Apesar de ouvir Sérgio Reis, quando criança e se emocionava com a história da canção O menino da porteira. Bini hoje é um mediador da leitura. Em seu trabalho ele trata com questões mais humanas no trabalho com a mediação da leitura, suas ações estão em torno de dar voz aos que estão sem voz - pessoas marginalizadas. "Basta eu não te ouvir que eu não te vejo". Um exemplo na literatura, Bini cita em sua apresentação a obra de Ralph Ellison com o título "Homem invisível" - um homem negro chega a uma cidade que no passado, os negros eram escravos. Os estudantes estudavam em cidades fora dali. Quando ele chega nessa cidade "o olhar das pessoas perpassam por ele, não o enxergam como pessoa e sim como coisa".

Fonte: internet.

Quando se perde a voz, perde a humanidade, torna-se inasimilável, (aquele em que a vida perde o significado, aquele que deixa de ser). Adquire a voz bárbara. Como exemplo dessa voz vem a violência, um homem sai de seu lugar e queima um ônibus porque quer uma pedra de crack - provoca situações de horror e pânico aos outros. E ele sente orgulho do feito - isso é algo inassimilável. Como oferecer literatura para pessoas assim, nesse contexto social? Um outro exemplo está falta de paciência de uma professora que cobra do aluno o exercício que era para ser feito em casa. Ele não fez porque o pai chegou em casa, deu um tapa na mãe, arrancou a folha do caderno do menino e usou a folha de papel do trabalho de casa para enrolar o "baseado" e fumar. O menino diz que não fez porque o pai fumou o exercício do caderno. Diante desse cenário, como oferecer um livro que possa chegar à essa realidades e realidades variadas? O projeto Guia de Leitura propõe uma dinâmica da realidade com a linguagem, oferece a música, o livro, o cinema e acima de tudo traz cada mediação das expressões artísticas com a realidade de cada pessoa, grupo, comunidade, ...

Bini nos deixa um questionamento: Como um mediador pode mudar a trajetória de uma pessoa?

A pessoa da mediação é uma peça chave e pode contribuir para alterar o rumo de uma pessoa. Importa lembrar que em nosso dia a dia precisamos ter um certo nível de acolhimento de nossos clientes, usuários, interagentes... Bini diz: "O olhar que aconchega, aproxima e atrai. Como também há o olhar que afasta".

Quando a mediação é feita e a biblioteca precisa estar em alinhamento com essa ação. O mediador precisa ser um leitor e conhecedor de obras e títulos. Assim como o(a) bibliotecário(a) precisa ser leitor(a), para poder oferecer um livro e ENCANTAR o leitor. O professor e demais envolvidos com o processo de mediação da leitura.

Sugestões ou indicações de títulos de livros feitos por Gelson Bini:

1 - Livro - Angu de Sangue - Marcelino Freire

Fonte: internet.

Como o olhar e a palavra de um mediador pode alterar a vida de uma criança. Marcelino Freire (autor de Angu de sangue) não saiba ler nem escrever e catava lixo. Um dia encontra um livro, do poeta português Fernando Pessoa, carrega o livro nas mãos e não lê, pois não saber ler. Um dia uma professora o encontra e a cena chama a sua atenção. Ela pede para ele ler, por se tratar de um autor que a agrada. Ele responde que não sabe ler e ela pergunta porque ele está com o livro nas mãos. Ele diz: porque tenho esperança, de tanto olhar um dia eu vou aprender. Ela solicita aos pais a permissão para ensinar o menino a ler. Ela sai do trabalho e o ensina. Hoje ele é dramaturgo, escritor, professor, já ganhou o prêmio Jabuti. A professora conseguiu alterar a situação de vida dele.

Um pouco do conteúdo do livro: Tudo se encontra no lixo, a vida é o lixão, lá tudo tem! Tem o que comer, tem o que enfeitar a casa, tem remédio para as dores, ... para onde ir se o lixão vai sair dali ... há tanto ali que é desperdiçada por outros ... até aliança foi encontrada ali, junto com um corpo que apareceu ali ... "eles dizem que sim, que vão nos tirar daqui", para nós isso aqui é um paraíso. 

2 - Poema: Sobre Importâncias - Manoel de Barros

Fonte: internet.

"Um fotógrafo-artista me disse uma vez: veja que o pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balança nem com barômetro etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós. Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes. Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante. E um dente de macaco da era terciária é mais importante para os arqueólogos do que a Torre Eiffel. (veja que só um dente de macaco!) Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building. (...) Que o canto das águas e das rãs nas pedras é mais importante para os músicos do que os ruídos dos motores da Fórmula 1. Há um desagero em mim de aceitar essas medidas. Porém não sei se isso é um defeito do olho ou da razão. Se é defeito da alma ou do corpo. Se fizerem algum exame mental em mim por tais julgamentos, vão encontrar que eu gosto mais de conversar sobre restos de comida com as moscas do que com homens doutos" (Manoel de Barros).
Fonte: internet.

ENCANTAMENTO para Manoel de Barros é ver as coisas..., através do olhar de uma criança. Que devamos passar a olhar coisas que para nós já não faz o mesmo efeito de quando as descobrimos. QUANTAS vezes saímos de casa e não percebemos as pequenas coisas ao nosso redor.

3 - Poema: Obrar de Manoel de Barros

Fonte: internet.
"Naquele outono, de tarde, ao pé da roseira de minha avó, eu obrei. Minha avó não ralhou nem. Obrar não era construir casa ou fazer obra de arte. Esse verbo tinha um dom diferente. Obrar seria o mesmo que cacarar. Sei que o verbo cacarar se aplica mais a passarinhos. Os passarinhos cacaram nas folhas nos postes nas pedras do rio nas casas. Eu só obrei no pé da roseira da minha avó. Mas ela não ralhou nem. Ela disse que as roseiras estavam carecendo de esterco orgânico. E que as obras trazem força e beleza às flores. Por isso, para ajudar, andei a fazer obra nos canteiros da horta. Eu só queria dar força às beterrabas e aos tomates. A vó então quis aproveitar o feito para ensinar que o cago não é uma coisa desprezível. Eu tinha vontade de rir porque a vó contrariava os ensinos do pai. Minha avó, ela era transgressora. No propósito ela me disse que até as mariposas gostavam de roçar nas obras verdes. Entendi que obras verdes seriam aquelas feitas no dia. Daí que também a vó me ensinou a não desprezar as coisas desprezíveis. E nem os seres desprezados".Fonte: internet.



4 - Valentina - Marcio Vassallo - ilustração de Suppa




Fonte: internet.


A história conta a vida de uma menina que é uma princesa moradora de um castelo (barraco no morro), o rei é branco e a rainha é negra. Ela se assusta com os dragões que estão do lado de fora do castelo e cospem fogo (homens com metralhadoras). Os reis a acalentam. Ela observa do alto, de seu castelo e vê lá embaixo a cidade chamada TUDO e resolve ver como tudo é. A igualdade era generalizada e a discriminação reina...

5 - Livro: 1984 - George Orwell

Fonte: internet.

Gelson Drierich Bini sugere que todos leiam este livro. Que os mediadores e professores possam indicar a leitura.

Este livro foi escrito em 1948, ele imaginou um futuro imaginário em que a sociedade é dominada por um governante, todos trabalham para ele sem salário, apenas comida. Todos o acham bondoso. O governante conseguiu eliminar o professor, a arte, o livro, expressão artística é proibida... só suas leis ... todos são observados por câmeras... e o Grande Irmão observa-os e os comanda.

6 - Livro: Bola de Sebo - Guy de Maupassant

Fonte: internet.

A prostituta gordinha é chamada de Bola de Sebo por ser gorda. Bullying? - Essa história chama a atenção por ser descriminada por um grupo que viaja com ela e em determinado momento a fome aperta e nada têm para comer, e ela leva uma cesta com comida. A figura rechaçada agora é bem vinda com suas guloseimas. São presos e agora Bola de Sebo é a única que pode ajudar a todos. Ajuda e logo vem o desprezo e o rechaçamento novamente. Mudou alguma coisa na situação vivida no início da história para o desfecho? Apesar de se sacrificar por todos?

7 - Livro: Você é uma animal Viskovitz - Alessandro Boffa


Fonte: internet.

Apenas uma história do livro - A Formiguinha é inteligente e carismática e com sua persuasão ela conquista a todos e lidera o formigueiro. Deram o poder a ela e agora no poder ela lidera a seu bel prazer. Ela é comparada a Adolf Hitler.

8 - O jogo da amarelinha - Júlio Cortázar


Fonte: internet.

O casal vive um grande amor, estão separados e se encontram em Paris. Ao aguardar, ele entra em uma livraria e o homem recorda os livros e as músicas e as obras de artes que o casal gostavam. Se reencontram e o fim da obra vem. Só que o autor informa que no início do livro tem uma tabela e se seguir uma outra ordem de leitura você poderá ter outra história.

Essas foram as falas de Gelson Drierich Bini e as obras utilizadas por ele em sua maravilhosa e encantadora palestra em Lages-SC.



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