quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

LIVRETANDO - O VILAREJO (por Raphael Montes)

MONTES, Raphael. O vilarejo. Ilustrações [de] Marcelo Damm. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. 93p.


Foto: Evandro Jair Duarte.

Comprei este livro no site da livraria Saraiva no dia 22-08-2015, pois eu havia lido trechos de postagens no Facebook e em propaganda da própria livraria. A obra ficou em pré-venda e eles informavam que a aquisição, nesta modalidade, traria os exemplares com o autógrafo do autor. Eu não perdi tempo e adquiri meu livro.

Foto: Evandro Jair Duarte.


No dia 03-09-2016 o livro foi despachado e eu já lia nas mídias sociais e em jornais sobre a obra. Fiquei cada vez mais curioso sobre seu conteúdo. Assim, passei a seguir o autor no Instagram e Facebook, e o que ele colocava me provocava mais, a ansiedade por ler só aumentava.

Quando o livro chegou e abri o pacote, fotografei, cheirei (adoro os cheiros dos livros), olhei todas as ilustrações (excelentes) e fiquei encantado com o todo da obra.

Registro aqui os meus parabéns para o autor que teve o cuidado para com a tradução dos textos e adequação para a língua portuguesa. Sua escrita é primorosa. Outro cuidado, maravilhoso por sinal, é com a capa e contra-capa, um desenho digno de best-seller e de grandes escritores. Saber escolher a capa é fundamental.

Para mim, minha forma de ver, o cuidado dispensado com o todo (capa, orelhas, miolo, contra-capa, marketing, etc.) demonstra que o livro foi pensado, lapidado, e que cada passo foi executado com muito profissionalismo e esmero.

Só as ilustrações já me arrepiaram, e melhor, me instigaram a ler os textos.

Foto: Evandro Jair Duarte.

Bem, me dou a liberdade e Raphael Montes que me perdoe de colocar um trecho do Prefácio para que saibam de onde vem a inspiração da obra, este é o excerto: "Os cadernos ilustrados de Elfrida Pimminstoffer chegaram a mim de maneira inusitada. No início de 2014, recebi uma ligação do Maurício Gouveia, sócio do sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Maurício me explicou que havia adquirido uma coleção de mais de sete mil livros de uma senhora chamada Elfrida Pimminstoffer, falecida meses antes, aos cento e dois anos. Entre obras clássicas, enciclopédias e livros de banca, ele havia encontrado três cadernos muito finos, de capa de couro, com texto escrito à mão, em língua estrangeira, e ilustrações. Contactara, então, Ana, a bisneta de Elfrida, que lhe vendera os livros. Ana não queria os cadernos de volta e até ameaçou queimá-los caso Maurício insistisse na devolução. Sem saber o que fazer com os cadernos, Maurício me telefonou para perguntar se eu tinha interesse em analisar o material. Aceitei".

Diga aí se não dá curiosidade em saber do que se trata? A riqueza de detalhes sobre esta aquisição, do autor, está na íntegra do prefácio e é fascinante.

Os textos do livro são retratações de episódios de horror e de extrema violência, afirma Raphael. Textos que compõem sete contos com a indicação de sete reis do inferno, os quais invocam sete pecados capitais nos seres humanos. Raphael descreve seus nomes: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba).

O autor ainda nos esclarece que buscou ajuda para traduzir os textos escritos em língua morta (cimério) e não conseguiu a parceria que gostaria. Ele teve que fazer a transposição sozinho e declara que os textos são de pura maldade, terror e frieza. São narrativas que se passam em um vilarejo.

Não farei uma sinopse com detalhes de todos os contos, mas me sinto tentado a comentar o primeiro: "Bezebu: banquete para Anatole", em que trata da gula. Assim, temos como personagem Felika, uma mãe em casa com seus três filhos, o pai sai em busca de alimentos em um período difícil de guerra. Na vizinhança há muita fome e não há muito o que comer. As pessoas evitam sair de casa por causa do frio e para economizar energia em seus corpos. Dessa forma, eles tentavam continuar vivos. Um trecho deixa claro isso, veja: "Ninguém chora os mortos. Não podem desperdiçar energia lamentando a partida dos que não suportaram o frio e a fome".

As pessoas começam a morrer em meio a fome, frio e fraqueza, sem falar em saques às casas para conseguir poucos mantimentos. Coisas estranhas acontecem naquele vilarejo, pessoas são mortas.

A vizinha bate à porta de Felika, mas esta, receosa, não abre e a faz voltar para casa. Outra vez batem à porta e agora é o marido que retorna e encontra um verdadeiro cenário de filme de terror no interior da casa. A fome deu lugar para as atrocidades impensadas acontecerem. 

O que Raphael narra em todos os textos é algo macabro, sinistro, animalesco, horrendo, vale a pensa ler. Mas, prepare seu espírito para se deparar com o mal descrito.

Leviathan: as irmãs Vália, Velma e Vonda (inveja). Texto que trata da inveja e da maldade por causa deste pecado. Uma tragédia com todo o requinte de crueldade, sem o menor remorso é descrito.

Lúcifer: o negro caolho (soberba). Conto que demonstra a benevolência de uma mulher que aos poucos é abatida pela tristeza e se transforma em um ser soberbo, violento e animalesco. Toda maldade é castigada neste conto.

Asmodeus: a doce Jekaterina (luxúria). No texto, um homem abusa sexualmente de uma menina que tardiamente se vinga e a revanche vem com toda força contra ele.

Belphegor: a verdadeira história de Ivan, o ferreiro (preguiça). No conto o personagem é preguiçoso e explora duas pobres coitadas. Morte, fome e a desgraça vem de onde menos se espera. 

Mammon: o porquinho de porcelana da Sra. Branka (ganância). Economias que privam uma vida ou duas de muita coisa e as definham.

Satan: um homem de muitos nomes (ira). A raiva, ira, descontrole emocional causa danos, que muitas vezes são irreversíveis.

O mal se manifesta em cada um dos contos, em cada miséria da condição humana em meio à guerra, frio e fome.

O próprio mal encarnado diz: "Humanos vivem carregados de uma crueldade sufocada".

E ainda diz: "Ah, vocês e suas máscaras... acabam enganando a si mesmos". 

Como escreveu Raphael Montes no autógrafo do livro: "O mal mora no vilarejo".

O posfácio é intrigrante e perturbador, nele há a foto recebida com a identificação de Elfrida (nome adotado quando ela chegou ao Brasil) é reveladora e me deixou com uma pulga atrás da orelha: será tudo uma ficção e história criada ou será verdadeiro o conteúdo dos prefácio e posfácio? Estou intrigado. Vou perguntar ao autor (tradutor) e esperar por uma resposta.

Foto: Evandro Jair Duarte.

Boa leitura aos corajosos!!


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